Oi :) Aqui quem escreve é a Helena.
Conheci a Ju - que chamo de “Ju, minha fotógrafa” - quando estava me formando na faculdade em 2019 e procurava fotógrafos politicamente afinados comigo. Entrei em contato com ela e foi Haddad à primeira vista. De lá pra cá, muitas coisas aconteceram... Ju deixou a fotografia e hoje está abrindo essa marca linda que é a Tangerina. Que alegria para este mundo!
Bem, nos últimos tempos, eu diria semanas, temos conversado bastante sobre alguns temas. Fui convidada, então, a escrever um texto em que eu pudesse expor e comentar sobre meu processo de transição capilar. Mas, apesar de esse ser um movimento, de fato, importantíssimo, preciso antes compartilhar um pensamento que tem borbulhado, principalmente por meio do meu trabalho como pesquisadora; sou formada em Letras - Italiano pela UFSC, e faço mestrado em Literatura.
Sem me alongar demais, ao ler alguns escritos do autor que estudo, percebi o quanto a assimetria está presente e é essencial às nossas vidas. Todo o nosso corpo, de uma forma ou de outra, é formado de partes assimétricas. E daí, o problema começa. Desde regimes totalitários espalhados pelo mundo, até os padrões de beleza impostos às mulheres, a assimetria sempre foi a causadora da discórdia. A hostilidade e a intolerância ao que é diferente existem desde que o mundo é mundo, ou antes disso. Mas o fato é que a ditadura do cabelo liso, nada mais é que uma aversão aos fios desnivelados, arrepiados, arredondados, cacheados - assimétricos! -. Tem que escovar, alisar, amaciar e deixar bem retinho e alinhado. Que preguiça!
Tudo mudou quando coisas dentro de mim mudaram, e quando, aos poucos, fui percebendo que o bagunçado também pode ser bonito. O frizz nos dias de chuva é a reação do meu corpo ao clima externo. O volume armado pode estar relacionado ao meu estado emocional. O embaraçado pode ter a ver com a espessura do meu fio.
Enquanto seres da natureza, reagimos a tudo que nos cerca. Pensando nisso, por que raios continuamos a querer domesticar toda e qualquer parte do nosso corpo? Quando parei para pensar sobre todos esses aspectos, precisei parar de usar a chapinha e me abrir para viver esse processo. Meus dias passaram a não mais girar em torno das horas que eu precisava gastar para arrumar meu cabelo. Descobri um mundo de possibilidades para finalizá-lo e deixá-lo bonito. Volume e movimento viraram palavras amigas. Meu senso estético se transformou profundamente e o mais bonito é justamente isto: treinar o nosso olhar para encontrar beleza nas assimetrias. Por que precisamos repetir aquilo que nos disseram?
Que sejamos mais livres e fiquemos confortáveis naquilo que somos. Tudo bem alisar, mas isso deve ser uma escolha consciente e genuína. É muito mais sobre querer, do que precisar. Vivenciar a natureza dos meus cabelos me traz aprendizados diários (semanais, vai…). Cada assimetria deles hoje me encanta. Sigo feliz sendo um leãozinho e tendo mais tempo para me dedicar a coisas que realmente importam.
Com carinho e desejos de liberdade,
Helena B.C.
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