Bahia. Música. Candomblé. Movimento. Ritmo. Enfeite. Mar.
Essas são algumas das palavras que podem dizer sobre a mulher que dá nome ao brinco Maria Bethânia.
Bethânia que nasceu em Santo Amaro, pequena cidade no Recôncavo Baiano e que aos 17 anos foi para o Rio de Janeiro substituir Nara Leão no espetáculo Opinião. O que se sabe é que vinda de uma família católica, ela seguiu os passos do Candomblé, religião que acolheu suas questões tão profundas, ainda que fosse uma jovem menina. Desde cedo, não acreditava na figura única de um Deus e relutava contra as obrigações da Igreja Católica.
Conta que certo dia, conversando com seu irmão, Caetano Veloso (que, diga-se de passagem, foi quem escolheu seu nome), ele lhe disse: “Deus sou eu”. E foi ali que Bethânia entendeu a criação, a beleza que há em enxergar Deus na natureza, na poesia, na música. A possibilidade de brincarmos com essa figura, apesar de que a afirmação de Caetano era mesmo coisa séria.
Anos se passaram, e Bethânia se aproximou do Candomblé através de Vinicius de Moraes, amigo, poeta e diplomata que a levou até Mãe Menininha de Gantois, a mais famosa mãe-de-santo da Bahia. A cantora ficou encantada com os rituais, a junção de dança, música, comida, expressão corporal, tudo reunido em um rito de adoração divina que ia além dos cerceamentos da Igreja.
Quem vê fotos da cantora, percebe muitas cores e muitos adornos em seu pescoço, orelhas, mãos, braços. “Eu sou baiana, gosto de me enfeitar”, declarou em uma entrevista. Por isso, nada mais apropriado do que homenagear uma grande mulher brasileira, que com seu gingar e sua sensibilidade, compõe esse grande mosaico dos ritmos brasileiros, trazendo também a beleza característica de seu encantamento pela vida e pela gente (poucas coisas nesse mundo são mais bonitas do que ouvir Bethânia declamando poesia!).
“Do som das ondas os búzios não esquecem
Acolhe a voz do mar em qualquer terra
Desde menina sou búzio da minha terra”
O trecho da canção Búzio, composta por Jota Veloso e Roberto Mendes e interpretada por Maria Bethânia traz os movimentos que o brinco da Tangerina pretende inspirar. Com o búzio pendurado na argola, a concha vai se movendo à medida que o corpo também se move. É a própria dança entre a orelha, o corpo, e a jóia. O búzio, essa pequena concha, de formato arredondado, é objeto especial nas religiões de matrizes africanas, e pode vir a ser amuleto de proteção.
Por isso, o batizamos de Maria Bethânia. “Em meio a saravás, ela risca o chão com pés descalços, arma seus búzios na necessidade de decifrar a arte que lhe caberá”, escreve o compositor Hermínio Bello de Carvalho, na contracapa do disco Maria Bethânia de 1969.
Um beijo,
Helena B.
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